ESCULTURA
Estava eu lendo “A Graça da Coisa” de Martha Medeiros, quando me deparo com escultura. E como Michelangelo definiu –a para alguém, como o caso do seu “Davi”: “ É simples, basta pegar o martelo e o cinzel e tirar do mármore tudo o que não interessa”. E dessa forma genial ele explicou que escultura é a arte de retirar os excessos até que libertemos o que dentro se esconde.
Foi quando me dei conta dos meus excessos. E de quantos excessos venho acumulando ao longo de toda uma vida. E de quanto é necessário as vezes largar um pouco deste peso para ser mais livre, leve e des-cobrir mais e mais.
Sim, porque o ser humano nada mais é do que uma matéria bruta a ser esculpida. Quando pequenos, nossos pais começam o trabalho, nos esculpindo com valores, informações e formação para a vida que o tempo se encarrega de nos conduzir. Eles dão uma mãozinha ao tempo que o nosso escultor principal.
Uma coisa puxa a outra e lembro-me de uma frase da Fernanda Montenegro em que ela disse que não faria plástica porque tinha orgulho de suas rugas e marcas que a vida e o tempo lhe esculpiu. E fiquei completamente encantada com a forma libertária desta mulher de encarar a vida e a forma como o tempo lhe marcou. E mais: da alegria dela de viver e celebrar dia após dia todas as alegrias, estresses, lágrimas, decepções, sucessos e fracassos, filhos e netos e tudo que tem direito e se dá ao direito.
Se Michelangelo levou, como disse Martha Medeiros, três anos para terminar Davi, hoje exposto em Florença, na Itália. Nós pra chegarmos à um rascunho bem mais ou menos, levamos décadas, e na maioria das vezes uma vida inteira.
Quando jovens achamos que sabemos muito (arrogantemente falando), mas é este muito que deve ser desbastado pelo tempo até chegar ao cerne da nossa identidade. Isso pode ocorrer lá pelos 4.0 e muitos anos. É quando descobrimos que nada sabemos.
Amadurecer é passar por este processo de refinamento. Retirar as gorduras, os pesos desnecessários. Depurar o que realmente vale a pena. O verdadeiro sentido da vida. Aquilo que passamos a vida toda nos perguntando e muitos morremos sem saber.
Acredito que o quê de mais precioso revelamos ao nos des-cobrir com o tempo é o afeto, o amor e a generosidade. Que eu, você e todos nós sentimos com relação à nós e ao próximo.
E é o que de tanto o nosso mundo e o nosso Brasil precisa neste momento de tanta s perdas importantes na nossa sociedade. Uma boa noite amigos! E um bom ano 2014! Que Deus esteja conosco.
Ana Lucia Serpa Braz - dia 14 de fevereiro de 2014
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